domingo, 17 de maio de 2020

6º Dia (15/08/2008) - Copacabana/Puno: Isla de Los Uros

Acordamos cedo e descemos pro café da manhã. Como era de se esperar, o café da manhã era maravilhoso: chá, leite, café, suco, panquecas com presunto e queijo, ovos mexidos, geléias, etc. Como nossa diária se encerrava às 10h, deixamos nossas mochilas num depósito no hotel e fomos fazer um tour por Copacabana. 
Seguindo o Juan Carlos pelas ruas estreitas e confusas de Copacabana, chegamos ao mercado de rua, onde se vende de tudo um pouco. A maioria das comerciantes eram cholas, rodeadas de crianças com suas bochechas coradas de sol e frio.




O comércio de gêneros alimentícios era o de maior destaque: frutas e verduras, uma enorme variedade de grãos, batatas e pipocas, peixes, frangos e carnes. A higiene era algo bastante questionável.





O Juan Carlos nos explicou que muitas famílias não possuem geladeiras em casa. O frio da região ajuda a conservar os alimentos e é comum as pessoas comprarem somente a quantidade de comida para um dia ou dois.
Mais adiante, vimos algumas bancas vendendo artigos místicos e religiosos. A maioria dos nativos cultua divindades, e a mais popular delas é Pacha Mama. "Pacha" significa "tempo", mas seu significado engloba o universo, o mundo, o tempo, o lugar, enquanto que "Mama" é mãe. A Pacha Mama é um deus feminino, que produz e agrega. É a deusa da abundância e de tudo que na terra existe. Existem no mercado pacotes de oferendas a Pacha Mama ou outras divindades, com as mais diferentes finalidades: dinheiro, sorte, amor, felicidade, sedução, etc. Juro que tinha um com a foto da Daniella Cicarelli. Havia ainda diversas estatuetas, ervas e vários outros "feitiços" ao gosto do freguês.



Os fetos de lhama dissecados assustam um pouco. Mas segundo nosso guia, se a múmia de um feto de lhama for ser enrolada com tecidos mágicos e queimada com álcool, traz sorte imediata. Se enterrada em sua casa, traz coisas boas em sua vida.



Saímos do mercado em direção a igreja de Nossa Senhora de Copacabana, ou Catedral de La Virgen de La Candelária, um dos grandes templos religiosos da Bolívia, cartão postal que marca a imagem de Copacabana. A Catedral é visita obrigatória, com suas naves internas repletas de arte barroca, o jardim e suas cruzes no pátio interno, tudo pintado de branco.



A Catedral é o ponto de confluência de peregrinos em busca das graças por promessas feitas à Virgem. Na época do aniversario da Virgem, em fevereiro, e na Sexta-Feira Santa, centenas de peregrinos vindos de diversas regiões da Bolívia e do Peru, a pé ou de bicicleta, inundam as ruas da cidade.
Juan Carlos nos explicou que as pessoas vêm a Copacabana e compram nas bancas próximas a Catedral uma miniatura do que se desejam: casa, carro, dinheiro, passagens aéreas, diploma universitário, bebês… tem miniatura até de marido. Levam as miniaturas para casa e rezam sempre para a Virgem, pedindo que sua graça seja alcançada. Quando conseguem, voltam à Catedral e levam consigo a graça recebida para que seja abençoada. Por exemplo, é muito comum ver automóveis enfeitados em frente à Catedral sendo benzidos pelo padre. Após a benzedura, ocorrem ritos de agradecimento a Pacha Mama, quando confetes e cerveja são usados para garantir sucesso ao dono com o novo carro. A cerimônia, chamada “Challa”, é uma mistura de bendição católica com ritos da antiga tradição dos incas, típico do sincretismo religioso que marca a cultura boliviana.





Do pátio interno da Catedral é possível avistar um morro chamado Cerro Calvário. Na Sexta-Feira Santa, os peregrinos fazem procissão iluminada à luz de velas, subindo o Cerro Calvário e lembrando o sofrimento de Jesus Cristo. Segundo Juan Carlos, o percurso até o topo possui 14 estações da Via Crucis. Em cada uma, o peregrino pega uma pedra cujo tamanho é proporcional ao tamanho do pecado, e segue a caminhada. O trajeto de pedras, degraus e escadarias é íngreme e, aliado à altitude, acaba se tornando um verdadeiro martírio.



Na entrada principal da Catedral tem uma estátua Francisco Tito Yupanqui, um descendente inca que não descansou até conseguir esculpir uma imagem da santa e colocá-la sobre um altar na cidade.


** UM POUCO DE HISTÓRIA **
Copacabana foi um local de sacrifícios humanos em honra da deusa-mãe Pacha Mama, do Deus Sol e da Deusa Lua. Com a chegada dos padres espanhóis, na metade do século XVI, com o cristianismo na bagagem, os incas dividiram os habitantes da região em dois grupos: os que aceitaram a dominação, designados para funções mais importantes e conseguiram cargos de maior poder; e os rebeldes, que foram transformados em escravos. Assim os espanhóis tentaram converter as populações indígenas ao catolicismo.
No momento em que os europeus conseguiram impôr sua cultura, por volta de 1570, os indígenas, já tinham adotado parcialmente a nova religião. Em pouco tempo, seguindo a tradição cristã, La Santisima Virgen de Candelaria já era considerada a santa padroeira da cidade, estabelecendo inclusive uma congregação.
A partir de 1582, uma série de acontecimentos foi aumentando a importância da Virgem para Copacabana, em especial devido a Francisco Tito Yupanqui, descendente da família imperial, fazer o voto de conseguir uma imagem da celestial Senhora. Os feitos por ele realizados dão motivo para crer que tal voto foi inspirado pelo céu.
Em 1605, uma Catedral começou a ser construída para abrigar a estátua, e o altar foi concluído em 1614. Apenas em 1805 a Catedral estaria pronta. Devido a inúmeros relatos de milagres atribuídos à imagem, a Santísima Virgen de Ia Candelaria acabou sendo oficializada como santa padroeira da Bolívia pelo Vaticano em 1925.

** ACREDITE SE QUISER **
Dizem que no século XIX, uma réplica da imagem da Virgem Maria foi feita e levada ao Rio de Janeiro no Brasil, onde foi criada uma pequena igreja para a Nossa Senhora de Copacabana, construída por comerciantes espanhóis. A igreja foi crescendo, e acabou dando o nome ao bairro de Copacabana no Rio de Janeiro.
Outros afirmam que a praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, recebeu esse nome porque uma imagem da Virgem de Copacabana foi encontrada enterrada na areia.

Após andar pela Catedral, tirar algumas fotos e ouvir o Juan Carlos explicar com detalhes como a igreja tinha massacrado a cultura aymara, nosso tour terminou. Ele ainda nos acompanhou até uma agência em que trabalha para negociarmos a viagem a Puno/Arequipa.





Depois de muito pechinchar, fechamos a viagem a Puno, incluindo o passeio a Isla de Los Uros e viagem a Arequipa por US$19,00. Satisfeitos com os descontos recebidos, nos despedimos do Juan Carlos e fomos almoçar em um restaurante ali perto. O restaurante era muito arrumadinho, aconchegante, e a comida muito boa. 




Saímos do restaurante, ainda passamos em algumas lojas para comprar mais algumas lembranças. As coisas em Copacabana são bem mais baratas que La Paz. Depois pegamos nossas mochilas no hotel e fomos ao ponto de encontro, onde um ônibus, da empresa Colectur, nos esperava para nos levar a Puno.
A viagem a Puno não é longa, uns 100 km aproximadamente. Passamos pela Imigração Peruana, uns 7 km de Copacabana, onde carimbamos o passaporte, registramos a saída da Bolívia e entrada no Peru. Muito tranquilo.



Continuamos nossa viagem e chegamos a Puno por volta das 16h. 

Puno
Considerada a capital folclórica do Peru, Puno é uma cidade no extremo sul do país às margens do lago Titicaca. Situada a 3.827 metros acima do nível do mar, Puno tem um clima seco e a temperatura chega facilmente abaixo de zero nos meses de julho e agosto.

Puno não é uma cidade muito atrativa. Por isso optamos em fazer apenas o passeio pela Isla de Los Uros e seguir viagem. Quando chegamos na rodoviária de Puno tivemos que esperar um pouco o pessoal da agência chegar, para nos levar até o porto, onde pegamos uma embarcação para a Isla. 
O guia do passeio era um rapaz meio empolgado, que contava histórias e fazia piadinhas não muito engraçadas. Na embarcação, além do nosso grupo, havia uma senhorinha com um acompanhante e um argentino. Conversamos um tempão com o argentino, que vivia viajando e tinha umas histórias bem legais.
Ficamos na parte de cima da embarcação tempo suficiente para tirar algumas fotos e descemos logo para a parte de baixo, pois fazia muito frio. Para quem já conhecia o Titicaca Boliviano, o Titicaca Peruano foi uma grande decepção. A água não é tão limpa e azul quanto na Bolívia. É escura, meio suja e cheia de mato.





Levamos aproximadamente 40 minutos para chegar na Isla de Los Uros. 

Isla de Los Uros
As ilhas são artificiais e foram construídas, originariamente, pelos Uros, povos que habitavam a região na era pré-colombiana. Atualmente, os Uros são uma etnia extinta e os povos que habitam as ilhas são descendentes dos índios aymaras. As ilhas são construídas com uma planta que cresce nessa região do Lago Titicaca: a totora. Além de ser a matéria-prima das ilhas, a totora é usada na confecção de casas, pequenas canoas, utensílios, artesanato e suas raízes ainda são comestíveis.
Antigamente, só três ou quatro dessas ilhas estavam ancoradas perto de Puno. Todas as outras estavam espalhadas pelo lago. Aos poucos quase todas se aproximaram, por causa do turismo. Hoje são duas cidades flutuantes de 25 ilhas cada, visitadas em dias alternados, porém esse número está diminuindo a cada dia. As novas gerações querem uma vida diferente, querem estudar, trabalhar e morar em grandes cidades. Hoje a comunidade já conta com uma escola e com placas solares para que as crianças tenham acesso a educação e comunicação. Assim, quando crescerem elas poderão escolher se querem seguir os costumes dos pais ou outro caminho.
Além de serem "reformadas" periodicamente, as ilhas não são permanentes. Seu ciclo de vida dura aproximadamente 50 anos e depois desse tempo os moradores devem construir uma nova ilha, com a ajuda de outras pessoas da comunidade. Em cada ilha vivem mais ou menos 4 famílias. Devido à umidade impregnada na totora, a população das ilhas sofre de doenças respiratórias e tem uma expectativa de vida entre 10 e 15 anos menor do que os habitantes da terra firme. Além disso, eles bebem água direto do lago Titicaca e sem nenhum tratamento. 


Pisar na ilha é uma experiência única. O “chão” é fofo. Assim que chegamos, o guia nos deu uma aula sobre a história e construção das ilhas, com a ajuda de uma moradora, que nos mostrou, em miniatura, como tudo acontece. A base da ilha são placas capazes de flutuar, que são amarradas umas as outras. Várias camadas de palha e totora são colocadas sobre as placas, para formar o chão. As casas são construídas sobre esse chão. As ilhas são móveis. Existem ainda alguns buracos deixados de propósito, para a criação de peixe, uma das fontes de renda das famílias. Outra fonte de renda é o artesanato, mas no geral, os habitantes das ilhas são muito pobres.







Fizemos um passeio de reconhecimento pela ilha e depois fomos dar uma voltinha no barco de totora. S$5,00 por pessoa. Na saída do barco algumas moradoras fazem uma coreografia divertida, cantam e animam os turistas. O passeio foi meio rápido, mas foi legal. Valeu a pena conhecer as ilhas flutuantes, mas recomendo fazer o passeio durante o dia, sem tanta correria. Tem outra ilha chamada Tequile que parece ser bem interessante. Algumas pessoas optam por passar a noite na ilha, o que deve ser uma experiência bem diferente. Há hotéis com ótimas recomendações. 






Já estava anoitecendo e o frio começava a castigar. Pegamos a embarcação de volta e pedimos para o guia nos deixar no centro da cidade. Precisávamos comer e trocar algum dinheiro antes de irmos para a rodoviária. A moeda local, novo sol, mais popularmente chamado de sol, era bem mais valorizada que o boliviano. 1 dólar = 2,83 soles, 1 sol = 2,60 bolivianos.
Paramos num restaurante/pizzaria e fomos comer. Pedimos uma truta e quando o prato chegou, que decepção! Mal servido, sem graça e caro, se comparado aos preços da Bolívia.
Por volta das 20h, pegamos um taxi e fomos para a rodoviária de Puno. Pagamos a taxa de embarque na rodoviária e ficamos esperando o ônibus. Quando o ônibus chegou, ele não era dos melhores não, mas nos acomodamos e seguimos em direção a Arequipa.
Fazia muito frio e era impossível dormir. Além do frio, o ônibus parava a todo instante. Algumas vezes durante essas paradas, o ônibus era invadido por cholas gritando “Mantita, mantita calientita.. Mantita” ou “Pan con jamón y queso, calientito”. 
De repente, o ônibus parou de vez. Estávamos em uma cidade chamada Juliaca. O motorista pediu pra todo mundo descer. Que confusão! Ninguém sabia direito o que estava acontecendo, até que uma passageira nos disse que o ônibus estava estragando, e um outro passageiro ligou na companhia e solicitou um novo ônibus. Pegamos nossas mochilas e ficamos amontoamos um em cima do outro, sem conseguir nos mexer, de tanto frio. As cholas insistiam em nossa volta com suas “Mantita, mantita calientita.. Mantita” que agora, fora do ônibus, valiam o dobro do preço.
Após uns 20 minutos de espera congelante, o novo ônibus chegou. O interessante é que ele tinha passageiros, que desceram, entraram no nosso ônibus supostamente estragado, e seguiram viagem. Nós guardamos nossas mochilas, entramos no ônibus recém chegado, muito mais confortável, e seguimos viagem. 
Chegamos em Arequipa era quase 2h da manhã. Pegamos 2 taxis e seguimos rumo ao albergue indicado pelo livrinho-guia do Xykão. Chegamos lá, estava lotado, e o motorista do taxi nos indicou outro que não me lembro o nome. Decidimos ficar por lá mesmo, já que era muito tarde, e não estávamos em condições de escolher muito. Após uma escadaria enorme, chegamos aos quartos, que eram triplos e sem muito conforto. As camas eram desconfortáveis, o banheiro era minúsculo e o chuveiro não muito quente, mas estávamos cansados demais para reclamar. Cada um tomou seu banho e foi dormir.

** Gastos do dia:
(Copacabana)
- Almoço – Bs$14,00
- Passeio Puno/Arequipa – US$19,00
- Lanche – Bs$20,00 (Bs$3,33 p/ cada)

(Puno)
- Passeio Totora – S$5,00
- Jantar – S$12,00
- Taxi – S$10,00 (S$1,67 p/ cada)
- Taxa de Embarque – S$1,00
- Ligação para Brasil – S$2,00

(Arequipa)
- Taxi – S$5,00 (S$1,67 p/ cada)
- Albergue – S$60,00 (S$20,00 p/ cada)

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