quarta-feira, 20 de maio de 2020

9º Dia (18/08/2008) - Nazca: Linhas de Nazca

Seguindo as recomendações da atendente do hotel, levantamos bem cedo. Por volta de 8h30 da manhã já estávamos reunidos no terraço do hotel para tomar um café da manhã. De lá era possível avistar quase toda a cidade. 

Nazca
Nazca é uma cidade peruana localizada no centro-sul do Peru, capital da província de Nazca, localizada na margem direita do rio Aja, um afluente do Rio Grande. Está situada a 450 km ao sul da cidade de Lima, em um vale estreito a 520 metros e possui cerca de 30.000 habitantes. Segundo relatos, ainda corre atrás da destruição causada por um forte terremoto em 1996, que acabou com boa parte da cidade.

Após tomarmos nosso café da manhã no hotel, descemos para o saguão, onde encontramos a mesma atendente da madrugada cheia de novidades. Ela se adiantou em pesquisar vôos e preços em algumas agências conhecidas, e segundo ela, só tinha vôo por US$100,00. E ainda corríamos o risco de não voar por causa do tempo, ou de ter que esperar alguns dias para conseguir vagas. Apesar da prestatividade da atendente, decidimos dar uma volta pela cidade em busca de outras opções.
Caminhamos pela rua do hotel até uma pequena praça. Vimos uma agência de turismo, mas estava fechada, mas logo apareceu o dono e abriu a loja. Que figura! Ele se chamava Henrique, era do tipo malando, e quando ele soube que éramos brasileiros, foi logo colocando Maria Rita pra tocar. Ficamos negociando com ele um tempão, e conseguimos o vôo por U$80,00 mais um passeio por Nazca por U$10,00 e se desse tempo, o passeio do Cemitério de Chauchilla por outros U$10,00. Finalmente consegui passar minha nota de U$100,00 rasgada. O tal Henrique passou um tipo de goma na nota, colando o rasgado de maneira super discreta e aceitou a nota como pagamento do meu passeio. Ufa!! Achei que ia ter que voltar com essa nota pro Brasil.
Nosso vôo seria 14h, então tínhamos 3 horas para fazer os outros passeios pela cidade. Entramos numa van e saímos em direção aos tais Aquedutos de Cantayoc (ou Cantalloc), distante a 7 minutos do centro de Nazca (4 quilômetros).



 Aquedutos de Cantayoc
Construídos entre 300 a.C e 700 d.C, os aquedutos testemunham o grau de desenvolvimento das antigas civilizações que habitavam a região - uma das mais secas do mundo. Os aquedutos são aberturas na terra com um surpreendente trabalho de hidráulica com galerias subterrâneas que serviam para controlar o manejo da água. As construções são feitas de barro e pedra e conservam a característica trapezóide da arquitetura incaica. Ainda em funcionamento, são responsáveis pela irrigação, levando a água de lagunas das montanhas aos campos das redondezas.

Não estava muito animada com esse passeio, mas tenho que admitir que os tais aquedutos me deixaram fascinada. Passamos por uns 20 aquedutos, mas o guia nos disse que tem muitos outros espalhados por toda Nazca, e que todos eles são interligados, formando um incrível sistema de engenharia. Normalmente o rio tem água corrente somente por 40 dias por ano, e não chove nunca. Desta forma Nazca teria seca por mais de 10 meses se não fosse o trabalho dos antigos índios.





Descemos em um dos aquedutos e o guia pegou um pouco de água para sentirmos a temperatura da água. Geladinha! 




O guia disse que os canais subterrâneos são bem grandes, e que é possível passar por dentro dos canais. Existem agências que fazem esse passeio, mas não achamos necessário. A foto abaixo mostra a estrutura interna dos canais.



Ficamos alguns minutos andando pelos aquedutos e tirando fotos.




Voltamos pra van, andamos uns 10 minutos e paramos no meio de um deserto. A idéia era nos mostrar como é formado o deserto e as linhas de Nazca. E eu que achava que deserto era só areia, me enganei profundamente. Na verdade, é formado basicamente por pedras. As linhas e figuras, segundo o guia, são um amontoado gigante de pedras semelhantes a essas e só é possível ver do avião. 




Saímos do deserto e voltamos para o centro da cidade. A próxima parada seria em uma oficina de cerâmica, grande riqueza cultural de Nazca. Paramos em uma casa humilde e o guia nos levou para o fundo da casa, onde funcionava a oficina e fomos recebidos pelo artesão. Cidadão mal encarado, nem sequer olhou pra gente, enquanto demonstrava como a massa era modelada, depois cozida e finalmente pintada. Em um cômodo reservado, havia várias peças para serem vendidas, mas nada nos interessou.



Entramos na van e seguimos rumo a uma mineradora, atividade bem popular em Nazca. O guia nos explicou que as montanhas são de domínio público. Qualquer pessoa pode procurar por metais preciosos e se achar, tem direito sobre elas. 



O minerador que nos recebeu explicou como a mineração era feita, e a essa altura, ninguém estava com muita paciência, já que a fome começava a incomodar. A mineradora também tinha um cômodo reservado, com várias peças em ouro e prata, e o preço era realmente muito bom. O Rhaverton ficou quase uma hora negociando algumas peças, enquanto aguardávamos na van.
O tour pela cidade havia acabado. O guia nos deixou de volta a agência e de lá fomos almoçar, num restaurante próximo ao nosso hotel mesmo, que infelizmente não me lembro o nome. Pedi um peixe grelhado com batatas, que demorou uma eternidade, mas estava muito bom.
Enquanto almoçávamos, aconteceu um fato curioso. O atendente da mineradora fez confusão com as contas de conversão de dólar para soles, e saiu no prejuízo. E não é que ele foi atrás do Rhaverton lá no restaurante para resolver a questão! O Rhaverton percebeu a confusão e pagou logo a diferença. 
O guia voltou ainda estávamos comendo. Ele ficou nos apressando, dizendo que tínhamos hora pra pegar o vôo. Mal terminamos de comer, entramos na van e seguimos em direção ao aeroporto, que fica localizado a 4km da cidade, e é muito bem estruturado. Pra todo lado que se olhe tem uma agência fretando os vôos.
O aeroporto estava lotado e tinha gente de todos os lugares do mundo. Conversamos com algumas pessoas e a maioria delas tinha reservado seus vôos com antecedência, porque o passeio era muito concorrido. Tinha gente que estava ali há dois dias esperando por disponibilidade de vôos. Pelo que percebemos, tivemos foi muita sorte de ter conhecido o Henrique, pois sem ele, não teríamos conseguido. Ele estava por lá, andando de um lado para o outro. Ficamos esperando a nossa vez assistindo a um vídeo que falava sobre as linhas, sobre quem as descobriu e sobre o passeio.

As Linhas de Nazca
As linhas de Nazca são geóglifos e linhas direitas no deserto Peruviano. Foram feitas pelo povo Nazca, que floresceu entre 200 a.C. e 600 d.C. ao longo de rios que desciam dos Andes. O deserto estende-se por mais de 1.400 milhas ao longo do Oceano Pacifico. Espalhadas por uma superfície de mais de 750 quilômetros quadrados, as linhas de Nazca são um conjunto de 70 desenhos de animais e plantas, composto por 800 linhas retas e 300 figuras geométricas no deserto de terra escura de Pampa Colorada, sul do Peru, que foi considerado patrimônio mundial pela Unesco em 1994.
O traçado é simples: as pedras escuras da superfície do deserto foram retiradas e empilhadas ao lado dos sulcos de cor branco-amarelado, graças a um subsolo rico em gesso. Mas as figuras, que não podem ser vistas no chão, revelam uma grande precisão geométrica que deixa perplexos os pesquisadores.



** UM POUCO DE HISTÓRIA **
Em 1926, um famoso arqueólogo peruano chamado Toríbio Mejia Xespe, foi informado por camponeses sobre a presença das estranhas figuras traçadas sobre o solo desértico. Não deu muita importância na época e julgou tratar-se de estradas utilizadas pelos povos pré-incaicos em rituais religiosos.
Entretanto, há registros que estas linhas já eram conhecidas durante a época da conquista espanhola, pois figuram das crônicas de fins do século XVI de Luis de Monzón, fazendo menção que as linhas eram feitas pelos índios por causa dos Viracochas – grupo étnico minoritário descendente do mítico "homem-deus-viracocha" – que segundo a lenda veio dos céus.
Em 1941 tomou conhecimento dos desenhos o arqueólogo americano, da Universidade de Long Island, em Nova York, Dr. Paul Kosok, que ficou extasiado com as figuras e especialmente quando notou que determinado conjunto daquelas linhas formavam um pássaro em pleno vôo e disse: “Este é o maior livro astronômico do Mundo”.
Kosok regressou em 1946 ao seu País e sugeriu à sua assistente, Maria Reiche, que se mudasse para o Peru e continuasse a estudar aqueles enigmáticos pictogramas. Durante toda a sua vida, Maria Reiche, dedicou-se àquele estudo e concluiu tratar-se de um imenso calendário astronômico, além de ser um calendário agrícola.
Em 1968, o polêmico livro de Erich Von Däniken e sua teoria que afirmava que as linhas eram sinais e pistas de aterrissagem para naves extraterrestres, transformou a cidade de Nazca em um centro de peregrinação turística, atraindo cientistas, ufólogos, esotéricos e visitantes de várias partes do Mundo.

Os vôos saem somente até as 17h e estávamos começando a ficar preocupados. Os vôos levam apenas 4 pessoas, incluindo o piloto, e tem duração de 35 minutos. Quando finalmente chegou a nossa vez, fomos a Lorena, a Neca e eu, e o Rhaverton ficou para o próximo vôo. O Brad achou muito caro o passeio e o Xykão não estava se sentindo bem desde Copacabana. O avião era um monomotor aparentemente seguro. 
O piloto perguntou quem gostaria de ser a co-piloto e eu fui logo atravessando na frente e dizendo que seria eu. O começo do sobrevôo foi divertido e emocionante, pois à medida que subíamos as linhas foram ganhando contornos mais definidos. Cada uma de nós recebeu um mapinha com a localização das principais figuras e um certificado, constando que voamos pelas Linhas de Nazca.




Para que todos pudessem ver e fotografar os desenhos, o piloto fazia primeiro uma manobra para a direita e depois outro para a esquerda. Os solavancos são inevitáveis e logo comecei a sentir um pouco de enjôo, enquanto observávamos triângulos, trapezóides, e retas que pareciam infinitas.
A primeira figura que pode ser observada foi “A Baleia”. O mais enigmático foi o desenho com 30 metros de altura denominado de “El Astronauta”, localizado no topo de um pequeno morro.



Um dos desenhos mais conhecidos é “O Macaco”, uma figura de aproximadamente 135 metros, que mostra o animal com apenas nove dedos e uma cauda em forma de espiral. Outro deles é “A Aranha”, de 46 metros de comprimento, que se localiza entre uma rede de linhas retas e é parte da borda de um enorme trapezóide.


“O Beija-Flor” é outro dos geóglifos mais famosos. 'O Condor', também muito famoso, possui 66 metros de distância entre os extremos de suas duas asas.



Também vimos um cachorro, um alcatraz de 300 metros, um papagaio, “A Árvore” e finalmente, passamos pelas figuras intituladas “As Mãos”, antes de voltarmos ao aeroporto.



** ACREDITE SE QUISER **
Dezenas de hipóteses já foram formuladas para tentar desvendar os mistérios das linhas de Nazca. Contudo, até hoje não existe uma só teoria que seja conclusiva. Abaixo algumas delas:

  1. Sinais e pistas de aterrissagem para extraterrestres: O suíço Erich Von Däniken, em seus dois livros, “Eram os Deuses Astronautas?”, de 1968 e “O Retorno dos Deuses”, de 1998, aborda esta teoria que motivou o crescimento do turismo na região e também de diversas especulações de que qualquer imagem mostrando um homem voador seria interpretada como um “deus astronauta”.
  2. Estradas dos antigos Nazcas: Os astrônomos e antropólogos norte-americanos, Anthony Aveni, Gary Urton e Persis Clarkson dizem que as linhas retas mais longas seriam caminhos que conduzem aos lugares sagrados.
  3. Mensagem para os extraterrestres: Ufólogos especulam dizendo que tais símbolos seriam uma forma de mensagem para os “deuses extraterrestres”;
  4. Influência da astronomia Maia: O autor Gilbert de Jong encontrou similaridade entre as ruínas de Izapa, no Iucatã e os pictogramas de Nazca, o que poderia indicar esta influência.
  5. A Teoria do Dilúvio: O autor australiano Robert Bast, afirma que todas as formas animais representadas no deserto de Nazca seriam em memória aos animais desaparecidos no Dilúvio.
  6. Calendário astronômico e agrícola: Segundo o pesquisador Paul Kosok e a pesquisadora Dra. Maria Reiche, as figuras geométricas formariam um gigantesco calendário astronômico. As linhas constituem os solstícios, as posições e mudanças das estrelas. Sua teoria foi corroborada pelo astrônomo peruano Luis Mazzoti. Ela associou os signos do zodíaco a doze figuras conforme abaixo:

    • Signo de Sagitário (22/11 a 21/12): Colibri;
    • Signo de Capricórnio(22/12 a 20/01): Fragata;
    • Signo de Aquário (21/01 a 19/02): Raiz;
    • Signo de Peixes (20/02 a 20/03): Peixes;
    • Signo de Áries (21/03 a 20/04): Cachorro;
    • Signo de Touro (21/04 a 20/05): Mãos;
    • Signo de Gêmeos (21/05 a 20/06): Árvore;
    • Signo de Câncer (21/06 a 21/07): Lagarto;
    • Signo de Leão (22/07 a 22/08): Iguana;
    • Signo de Virgem (23/08 a 22/09): Aranha;
    • Signo de Libra (23/09 a 22/10): Condor;
    • Signo de Escorpião (23/10 a 21/11): Macaco.

"Algumas coisas podemos explicar hoje, outras no futuro e outras nunca..." (Maria Reiche, 1982)

Confesso que os últimos geóglifos vi apenas de relance. Meu estômago estava dando mais voltas que o avião. O piloto abriu uma pequena entrada de ar e o vento me fez melhorar um pouco e aproveitar o que restava do passeio. Quando desci do avião, ainda estava bastante enjoada. Os créditos das fotos são todos da Lorena.
Enquanto me recuperava do vôo, foi a vez do Rhaverton fazer o vôo. Ele foi com um casal de italianos. Já era quase 17h e o vôo deles foi um dos últimos. Quando terminou, uma van nos aguardava para nos levar de volta ao hotel.
Infelizmente não tivemos tempo de conhecer o Cemitério de Chauchilla, que fica a 30 km de Nazca e pode-se observar as tumbas, esqueletos e múmias do período 100 aC. a 1300 dC. Dizem que há poucos anos atrás as múmias eram vistas na superfície, mas agora elas foram colocadas em 12 tumbas. Parece ser um passeio interessante, mas ficou pra próxima! O Henrique, que estava na van, nos devolveu os U$10,00 do passeio que não fizemos.
Eu ainda estava meio enjoada, e uma dor de cabeça estava começando a incomodar. Fui pro quarto tomar um banho, arrumar as bagagens e descansar um pouco até a hora da viagem a Cusco. 20h nos reunimos no saguão do hotel, acertamos as diárias e seguimos caminhando até a rodoviária de Nazca. Enquanto esperávamos o ônibus, aproveitamos para comprar uns lanches para a viagem.
O ônibus, que estava marcado para sair às 20h30, atrasou uns 20 minutos. Mas valeu a pena esperar. O ônibus era do tipo bus-cama double-deck. Era mesmo muito confortável e tinha até serviço de bordo. Nos acomodamos no andar de cima, já que o andar debaixo era de luxo, com poltronas de couro e viravam cama. Após uma hora de viagem serviram o jantar: galinhada, com algumas verduras e um refrigerante. 
Depois do jantar, todos se prepararam para dormir. As poltronas do ônibus se inclinavam, e um suporte para as pernas dava a sensação de estar deitados. Para completar, as comissárias distribuíram cobertas e travesseiros. Meia hora depois estavam todos desmaiados em suas poltronas-camas.

** Gastos do dia:
- Vôo Linhas de Nazca – US$80,00
- Tour Nazca – US$10,00
- Almoço – S$23,00
- Hotel – S$140,00 (S$46,67 p/ cada)
- Lanche – S$13,00 (S$2,17 p/ cada)

Nenhum comentário:

Postar um comentário